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O novo mundo das uvas autóctones



Não sei se vocês sabem, mas o mundo do vinho tem modinhas e tendências.

Pra vocês terem uma ideia, nos anos 1990, seguindo os trilhos da enologia supertecnológica criada na universidade de Bordeaux no pós-guerra e desenvolvida por várias universidades do mundo, os vinhos eram superextraídos, encorpados, muito concentrados e alcoólicos. As passagens longas por pequenas barricas de carvalho novo ainda adicionavam notas intensas de tostados, baunilhas, tabaco, chocolate e café.

Além do mais, todo mundo decidiu plantar as mesmas variedades de uva —que ficaram então conhecidas como "variedades internacionais". Em sua maioria, variedades francesas cabernet sauvignon, syrah, pinot noir, merlot, chardonnay entre algumas outras.

Era cabernet sauvignon pra tudo que é lado, com sabores achocolatados e mega encorpados. Brancos de chardonnay fermentados em barricas novas a torto e a direito com notas amanteigadas que pareciam pipoca doce.

E apesar de a qualidade dos vinhos ter crescido de maneira vertiginosa, a verdade é que os vinhos ficaram todos muito parecidos. Um chardonnay da Umbria era igual a um da Borgonha e um cabernet feito no Maipo chileno poderia ter as características de um Bordeaux clássico. Legal, mas faltava identidade.

Esse tipo de vinho hoje já não predomina sozinho. Ele existe, é uma opção pra quem gosta do estilo, mas a boa nova é que surgem muitos outros estilos. E assistimos a uma busca por identidade que se satisfaz com o ressurgimento da produção de variedades autóctones.

Essas variedades, encontradas em lugares muito específicos, são todo um mundo a ser explorado. E pra nossa sorte —nós que gostamos de ter opções— produtores de várias regiões têm se empenhado em pesquisar variedades que ficaram pra trás, esquecidas e praticamente extintas.

Variedades que desapareceram seja por que eram difíceis de produzir, porque não rendiam muito volume ou simplesmente eram tão desconhecidas que era praticamente impossível apresentá-las ao mercado.

A Itália, sem dúvida, lidera essa nova cruzada, mas não está sozinha. Todos os países europeus têm recuado um pouco na evolução qualitativa x quantitativa. Hoje, prestam mais atenção à toda riqueza de sabores que essas variedades podem oferecer e menos com um retorno monetário imediato. Não basta o vinho ser bom, gostoso, bem feito. Uma boa história de queda e ascensão por trás de cada taça dá mais prazer a cada gole.

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