No avião deixando Auckland, enquanto decido entre a leitura difícil de "Vintner's Luck", da neozelandesa Elizbeth Knox, e uma comédia xaroposa da central de entretenimento, algo me preocupa.
Como relatar, em 1.500 caracteres, a experiência fulminante de 15 dias vivendo, comendo e dormindo em um trailer, ao longo de Marlborough, na costa nordeste da ilha sul da Nova Zelândia?
Indo para o norte, o vento soprava do Pacífico, e montanhas e rios formavam vales à esquerda onde, no final de tarde, o sol caído deixava o céu e nossa pele avermelhados. A paisagem é selvagem, o ar, salgado e fresco, e a luz, vítrea. E os vinhos...
E não falo de visitas a vinícolas com direito a bajulação. Falo de pegar na prateleira do supermercado qualquer vinho e, 50 vinhos depois, só um, precisamente, ser de má qualidade.
O primeiro vale que vemos é Awatere, com vinhas espalhadas por todos os lados. Logo chegamos a Blenheim, principal cidade de Marlborough. Ali, no vale do rio Wairau, encontram-se todas as principais vinícolas. Subindo a estradinha de Rapaura, pode-se visitar vinícolas e degustar a diferença entre os estilos de cada casa.
Sauvignon blanc é um clássico da região. É sempre cítrico, vibrante e saborosíssimo. Os rieslings secos têm profundidade e podem até envelhecer. Pinot gris é aromático, floral e resinoso, mas nunca exagerado.
Enquanto o vinho da França me encanta pela dificuldade e pela filosofia, o neozelandês roubou meu coração pela leveza de espírito (não menos filosófica) de um vinho cheio de fruta brilhante, que vem da simplicidade jovem e do orgulho da natureza local.
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